
Uma acção violenta protagonizada pela Polícia da República de Moçambique (PRM) e pela Polícia Municipal, na manhã de segunda-feira, 30 de junho, na cidade de Maputo, resultou em um motorista gravemente ferido, três detenções e pelo menos 14 viaturas apreendidas. Oalvo da repressão foram motoristas de “boleias pagas”, um sistema de transporte particular que tem sido uma alternativa crucial para muitos passageiros na cidade e província de Maputo, num contexto marcado pela insuficiência de transporte público por parte do Estado.
Os motoristas encontravam-se estacionados próximo à Praça do Destacamento Feminino, na Avenida Julius Nyerere, aguardando passageiros. Segundo testemunhas, os agentes chegaram ao local e deram apenas três minutos para que todos os motoristas abandonassem a zona.
Contudo, antes mesmo de esse tempo expirar, iniciaram o disparo de gás lacrimogéneo e munições reais, provocando pânico e correria entre os presentes. “Nem deu tempo de sairmos, já estavam a lançar gás e a disparar como se fôssemos criminosos”, relatou um motorista. Durante a operação, Arlindo Manhiça, de 41 anos, ficou gravemente ferido. Ele perdeu um dedo do pé após ser atropelado por um reboque municipal que, em meio à confusão, passou por cima do seu pé.
Manhiça não oferecia resistência, apenas tentava proteger o seu veículo. Três motoristas foram detidos: Elias Agripa Cossa, que apenas caminhava próximo à sua viatura; Elmote Raul Matusse, capturado após tentar fugir do gás lacrimogéneo e agredido com violência, e Helno Manuel Guiruta, acusado de resistência por supostamente “dar as caras” e questionar a operação.
Os três foram levados inicialmente para a 3ª Esquadra, ouvidos pelas autoridades e, mais tarde, transferidos para a 8ª Esquadra, sob custódia de um agente municipal. As 14 viaturas apreendidas foram transportadas para o parque do Comando Municipal de Maputo, na Avenida de Angola. Os motoristas afirmam que a repressão é injusta e selectiva. “Nem todos foram dispersos.
Os motoristas que operam junto de hotéis ou em pontos ‘privilegiados’ continuam a trabalhar normalmente. Só nós, que paramos na Praça do Destacamento, é que somos perseguidos”, desabafou um profissional. O sector das boleias pagas tem crescido como alternativa ao transporte urbano convencional, especialmente diante da crise no sistema público. No entanto, os motoristas enfrentam perseguições sistemáticas, multas arbitrárias e, mais recentemente, agressões físicas injustificadas, segundo denúncias.
Até o momento, nem a PRM nem a Polícia Municipal prestaram esclarecimentos oficiais sobre o ocorrido. Este novo episódio intensifica a tensão entre trabalhadores informais e as autoridades municipais e reforça os apelos por justiça, respeito aos direitos humanos e uma regulamentação justa do sector de transporte alternativo em Moçambique.