
Pelo menos 14 militares das FADM mortos em Muidumbe, em dois ataques reivindicados pelo Estado Islâmico. Chefe do Estado-Maior General das FADM, General Júlio Jane reúne-se pela primeira vez com comandante das forças do Ruanda em Cabo Delgado.
Entre os dias 8 e 10 de Maio, insurgentes realizaram uma nova vaga de ataques em Cabo Delgado, incluindo uma acção inédita contra um navio oceanográfico russo ao largo da Ilha Tambuzi, Mocímboa da Praia. Esta é a primeira grande acção terrorista registada no mar.
O ataque deu-se por volta das 15h20, quando o navio Atlantida K-1704, de bandeira russa, foi surpreendido por duas embarcações rápidas a cerca de 4 milhas náuticas a leste da Ilha Tambuzi. De acordo com fontes de segurança, os insurgentes abriram fogo contra o navio, claramente identificado como estrangeiro. A embarcação e a sua tripulação conseguiram escapar, navegando para águas profundas, fora do alcance dos barcos dos insurgentes.
As mesmas fontes indicam que, por volta das 16h00, uma mensagem de socorro foi captada no canal 16 do VHF pelo Director de Segurança Offshore da empresa Castor Vali. A transmissão, embora fraca, continha as palavras “pirata e ataque”, e dava conta da ocorrência em zona ainda considerada de risco elevado.
Às 16h45, o navio russo comunicou com uma embarcação próxima, alertando para a presença dos insurgentes a estibordo e fornecendo a localização exacta dos atacantes.
Até ao momento, não houve pronunciamento oficial sobre o incidente. Embora os insurgentes já tenham atacado pescadores nas ilhas dos distritos de Mocímboa da Praia e Macomia (Arquipélago das Quirimbas), esta é a primeira vez que o alvo é um navio de bandeira estrangeira.
Fontes da Marinha de Guerra de Moçambique afirmam que a possibilidade de novos ataques do género é reduzida, dada a limitada capacidade dos insurgentes para conduzirem operações marítimas com sucesso.
Baixas nas FADM
Ainda no dia 10 de Maio, insurgentes atacaram um acampamento militar nas imediações da aldeia 1 de Maio, no distrito de Muidumbe. O Estado Islâmico reivindicou a morte de 11 militares das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), tendo divulgado nas suas plataformas de propaganda imagens dos corpos dos soldados mortos.
Dois dias antes, a 8 de Maio, uma posição das FADM foi atacada nas margens do lago Nguri, na localidade de Miangalewa, posto administrativo de Xitaxi. Durante o ataque, foram mortos dois civis e dois militares. Um terceiro militar, gravemente ferido, conseguiu refugiar-se no mato, mas acabaria por morrer horas depois.
Os ataques recentes ilustram o agravamento da instabilidade em Cabo Delgado, com os insurgentes a intensificarem acções ofensivas face a uma resposta considerada limitada por parte das FADM e das tropas do Ruanda, destacadas para combater a insurgência na província.
Entretanto, no sábado (10 de Maio), o Chefe do Estado-Maior General das FADM, General Júlio Jane, manteve um encontro com o Comandante das Forças de Defesa e Segurança do Ruanda em Cabo Delgado, Major-General Emmy Ruvusha. A reunião serviu para discutir estratégias operacionais conjuntas em resposta à escalada dos ataques na região.
Este é o primeiro encontro entre Júlio Jane e o comando das forças do Ruanda desde que assumiu funções como Chefe do Estado-Maior General, e sinaliza uma aproximação do Governo de Daniel Chapo às forças do Ruanda, vistas, nos círculos militares moçambicanos, como uma força associada ao ex-presidente Filipe Nyusi. (MT)