
Apesar de ter experimentado um crescimento económico considerável nas últimas décadas, Moçambique permanece entre os países com os índices mais baixos de desenvolvimento humano no mundo, ocupando a 182.ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2025, de acordo com o relatório anual das Nações Unidas.
A leve melhoria em relação à 183.ª posição de 2024 — um ganho de apenas uma posição — não é suficiente para retirar o país da categoria de “baixo desenvolvimento humano”, a mais desfavorável da classificação global. O Relatório de Desenvolvimento Humano 2025, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), foi publicado sob o título “Uma Questão de Escolha: Pessoas e Possibilidades na Era da Inteligência Artificial”. A publicação aborda o impacto da crise pandémica na trajectória de desenvolvimento dos países, apontando que o progresso foi drasticamente reduzido nos últimos anos, com os países de IDH mais baixo, como Moçambique, a verem a situação se agravar.
O relatório aponta que, em 2025, o crescimento global do IDH projectado será o mais baixo desde 1990, excluindo o período da pandemia, e destaca uma tendência preocupante de aumento das desigualdades entre os países. As diferenças entre os países com IDH “muito alto” e os que se encontram na faixa mais baixa continuam a se expandir, com a África Subsaariana, onde se localiza Moçambique, a ser a região com os mais baixos índices de desenvolvimento humano a nível global. O país, que partilha este triste posto com a Guiné-Bissau, continua a enfrentar desafios significativos na melhoria de aspectos fundamentais como saúde, educação e qualidade de vida.
O paradoxo do Crescimento Económico sem Desenvolvimento Social
Apesar de anos consecutivos de crescimento económico, o impacto real desse progresso na vida cotidiana da população é limitado. Moçambique continua a enfrentar profundas desigualdades sociais e uma carência de serviços essenciais que são, na prática, obstáculos ao desenvolvimento humano. O país tem uma das taxas de alfabetização mais baixas da região e o acesso à educação de qualidade continua a ser um privilégio de poucos. A falta de infraestrutura básica e de serviços públicos eficientes, aliados a um sistema de saúde precário, são factores que comprometem a vida de milhões de moçambicanos, especialmente nas áreas rurais. Além disso, a escassez de dados confiáveis e a limitada capacidade institucional do governo dificultam a implementação de políticas públicas eficazes.
O relatório do PNUD alerta que, num contexto global cada vez mais digital, onde tecnologias como a inteligência artificial prometem transformar a economia, países como Moçambique, com desafios estruturais profundos, estão a ficar ultrapassados. A falta de uma educação básica robusta, aliada à escassa inclusão digital, impede que a popu[1]lação aproveite as oportunidades criadas pelas novas tecnologias.
O Cenário Lusófono
No cenário da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Moçambique continua a ser um dos países com pior desempenho. Enquanto países como Angola, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e a Guiné-Bissau tiveram melhorias no ranking, Moçambique subiu apenas uma posição, mantendo-se entre os dois países lusófonos com os índices mais baixos de desenvolvimento humano, ao lado da Guiné- -Bissau. Portugal, por sua vez, segue como o país da CPLP com o IDH mais elevado (40.º lugar), enquanto o Brasil ocupa a 84.ª posição. O relatório do PNUD sublinha que, apesar da crescente difusão da inteligência artificial e do potencial de transformação digital, o aproveitamento dessas novas ferramentas depende fundamentalmente da educação de base e da inclusão digital.
Para Moçambique, a crise de dados e a exclusão tecnológica não são apenas um reflexo da falta de infraestrutura, mas também uma questão de escolha política. Países que falham em investir na educação, inovação e serviços públicos básicos, como Moçambique, correm o risco de não integrar o futuro digital.
O Caminho para o Futuro
Para o administrador do PNUD, Achim Steiner, o progresso do desenvolvimento humano não será uma realidade automática, especialmente num contexto como o africano. “Embora a inteligência artificial e outras inovações tecnológicas apresentem oportunidades inegáveis, as escolhas políticas são cruciais para garantir que esses avanços cheguem a todos os cidadãos, independentemente do seu contexto social e geográfico”, afirmou. Steiner destaca a necessidade urgente de políticas públicas que promovam a inclusão social e a educação, além de investimentos estruturantes que possam melhorar as condições de vida e garantir a equidade no acesso às novas tecnologias.
Moçambique, portanto, enfrenta um dilema persistente: como transformar o crescimento económico em progresso social duradouro. A situação é ainda mais grave considerando o contexto de vulnerabilidade climática do país, que aumenta a pressão sobre os serviços públicos já sobrecarregados e prejudica a qualidade de vida da população. A combinação desses factores torna cada vez mais difícil para Moçambique atender às necessidades básicas do seu povo e alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pelas Nações Unidas.
Com o ritmo lento do desenvolvimento humano e as desigualdades a crescerem tanto dentro de Moçambique e no mundo, o relatório das Nações Unidas coloca o país diante de uma encruzilhada. A questão, agora, não é mais se o país vai continuar a crescer, mas como esse crescimento será traduzido em melhorias concretas para os moçambicanos. Sem escolhas políticas mais assertivas, investimentos na educação e digitalização, e a garantia de serviços públicos de qualidade, o futuro de Moçambique poderá continuar a ser marcado pela falta de oportunidades e pelo atraso nas questões fundamentais de desenvolvimento humano. Ngani